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terça-feira, 22 de março de 2011

OLHAR EPISCOPAL - EDIÇÃO 06


FRATERNIDADE E VIDA NO PLANETA (I)
por dom Milton Kenan Junior

A cada ano, a Igreja no Brasil, ao celebrar o tempo da Quaresma, que a conduz à celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, realiza a Campanha da Fraternidade, enfocando um aspecto da realidade que está a exigir conversão e uma atenção mais concreta dos cristãos.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade trata do tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, tendo como lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).
Já pelo tema se vê que o que merece uma maior atenção de nossa parte é a Vida, nas suas mais múltiplas formas no nosso planeta. Poderíamos dizer que a Vida está ameaçada, corre o risco de num tempo bem mais curto que imaginamos ficar seriamente comprometida, ou talvez desaparecer completamente.
O texto-base da Campanha da Fraternidade chama a nossa atenção para a elevação dos valores médios da temperatura na superfície do planeta, hoje em torno de 15°C, quando há 100 anos era 14,5°C, o que pode provocar alterações de várias ordens; diz também que a partir de 1750, a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumentou 40%, enquanto o metano (CH4) aumentou 150%. Esse é um dos fatores responsável pelo “efeito estufa”, grande vilão das mudanças climáticas, ou seja, a temperatura tende a aumentar cada vez mais (cf. Texto-base nn. 10. 15).
É triste constatar que a temperatura da superfície deve aumentar em cerca de 2,4°C até 2050, mesmo se a humanidade mudar seu padrão de produção e consumo imediatamente; mas poderá ser pior (atingindo o índice de 4°C) se a humanidade não mudar seus hábitos e não se preocupar com o planeta que vivemos (cf. Texto-base n.24).
A partir desses e de outros dados, que o texto-base CF 2011 nos apresenta, compreendemos que diante da problemática ambiental é necessário um pensar global, ou seja, compreender que a preservação da vida no planeta exige compromissos e posturas reais das nações, entre elas, a preocupação em diminuir a emissão dos gases responsáveis pelo “efeito estufa”; através do uso de energias renováveis (aquelas que são geralmente consumidas no próprio local em que ocorre a geração, e não emitem gases de feito estufa) e, o combate do desmatamento e das queimadas, que no caso do Brasil, são responsáveis por 50% das emissões de gases de efeito estufa (cf. Texto-base nn. 34.44).
Ao mesmo tempo, é preciso diante da realidade global possuir um agir local, ou seja, ações concretas que cada pessoa pode realizar, tendo em vista colaborar nessa empreitada pela defesa e preservação do meio ambiente: o uso de bolsas e sacolas de algodão para carregar compras, diminuir a temperatura de geladeiras, ar condicionados e estufas no inverno; economia no uso da energia elétrica; para conservar os alimentos, use vidro e não alumínio ou plástico; ao escovar os dentes, não deixar a torneira aberta, evitando o desperdício de 30 litros de água etc... (cf. Propostas para se diminuir o consumo pessoal, Texto-base n. 207).
As palavras do Papa Bento XVI na sua mensagem para a abertura da Campanha da Fraternidade 2011 são iluminadoras: “O primeiro passo para uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus, mas Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana, há uma certa epifania de Deus. “Quem sabe reconhecer no cosmos os reflexos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior amor pelas criaturas” (Bento XVI, homilia na solenidade da Santíssima Mãe de Deus, 1/1/2010).                                                                                                    
O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e aquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a “ecologia humana” (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate, 51), ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, nesse contexto, daqueles que perdem tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio ambiente.
“Recordando que o dever de cuidar do meio ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança que Deus confiou aos brasileiros, de bom grado envio-lhes uma propiciadora bênção apostólica.” (BENTO XVI).
Rezemos e tomemos consciência do que dizemos a Deus: “Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, e o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, e a morte mostra a sua presença no nosso planeta. Que nesta quaresma, nos convertamos e vejamos que a criação geme em dores de parto, para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes.” (Oração da CF-2011).


Dom Milton Kenan Junior


Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal para a Região Brasilândia   
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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