OLHAR EPISCOPAL – EDIÇÃO 22
PELA NÃO VIOLÊNCIA JÁ
POR DOM MILTON KENAN JÚNIOR
Novamente
a cidade de São Paulo, mais especificamente a Região Brasilândia voltou a ser
manchete de jornais. Nestes últimos dias, em razão do número de mortes
ocorridas nos bairros Carumbé, Cruz das Almas, Guarani, Damasceno, Morro Doce e
adjacentes.
A
população sofre intensamente com a insegurança que se instalou, devido ao
conflito entre facções criminosas e a Polícia Militar. Muitos bairros sofrem
com o toque de recolher, já no período da tarde, e com os assassinatos que se
dão pelas madrugadas adentro.
O
temor maior é de que medidas arbitrárias venham a agravar ainda mais a triste
realidade destas famílias que choram a perda de seus entes queridos e, sofrem
com a onda da violência que se alastra sem poupar ninguém.
Nestes
bairros estão muitas paróquias e comunidades que são obrigadas, a mudar os
horários de celebrações e encontros, cancelar reuniões, devido a falta de
segurança e ao clima de total ameaça que vive a população.
Lamentamos
o fato de que esta situação já era prevista e não faltaram aqueles que
advertiram as autoridades para medidas a serem tomadas para que fossem
evitadas. Muitas comunidades, hoje, assistem “um festival de assassinatos”. É o
caso das comunidades do Jardim Ângela, Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim São
Luiz que num prazo de uma semana, segundo a comunidade local, assistiram a morte
de 49 jovens, entre 14 e 29 anos.
Quem
convive nesses bairros sabe da precariedade em que vivem estas populações. Falta-lhes
tudo! Os recursos dispensados para atender as necessidades destes bairros são
irrisórios, tendo em vista a enorme demanda de saúde, educação, trabalho,
moradia, lazer e segurança que estas comunidades necessitam!
Tememos
pelo amanhã! Alguns episódios num passado recente nos deixam traumatizados,
imaginando que poderemos assistir hoje, cenas de truculência contra a população
mais pobre e desprotegida. Seria lamentável a criminalização das populações da
periferia da cidade de São Paulo, ou seja, que os ‘culpados’ da barbárie que
sofremos fossem os negros, os pobres e os jovens.
Nestes
últimos meses, assistimos na cidade de São Paulo, algumas situações que nos
fazem pensar, como por exemplo, a série de incêndio de favelas, situadas em
bairros e terrenos cobiçados pela especulação imobiliária.
Já
há algum tempo, a Pastoral Carcerária vem chamando a atenção para a superpopulação
no sistema carcerário do Estado de São Paulo, que duplicou no primeiro semestre
deste ano.
Não
são menos graves também as denúncias que vêm dos adolescentes, vítimas de
espancamento, maus tratos, humilhações vexatórias em entidades criadas para
garantir-lhes proteção e permitir-lhes a reintegração à sociedade.
Como
se vê a “onda” de crimes na cidade de São Paulo, nestes últimos dias, é fruto
do descaso, da falta de políticas públicas, investimentos nos serviços básicos,
defesa dos direitos humanos, promoção da vida com dignidade para todos.
É
lamentável ver que a Polícia Militar esteja tornando-se única vítima deste
cenário, quando na verdade, não é! Lamentamos a morte das dezenas de policiais
nestas últimas semanas. Muitos deles pais de família, preocupados com o bem
estar das pessoas, mortos no exercício de sua missão.
Mas,
fere-nos ouvir que há grupos de extermínio formados por policiais civis e
militares, pagos para matar indiscriminadamente. Não são poucas as famílias que
choram a morte de seus filhos inocentes, que morreram não por causa de uma bala
perdida, mas por causa de policiais que matam pelo prazer de matar, sem
escrúpulo algum!
Creio
que precisamos unir esforços! Além da parceria dos governos federal e estadual
no plano de combate à violência, anunciado nesta semana, creio que é urgente
uma parceria entre Governo e Sociedade Civil para conter a violência e
remediá-la nas suas causas.
Nos
episódios da “Operação Sufoco” (Cracolândia), “Pinheirinho” (São José dos
Campos) a queixa que mais se ouviu foi a falta de atenção às entidades
envolvidas com as populações atingidas, o descaso com que foram tratadas as
organizações populares, que convivem diuturnamente com a realidade das
crianças, adolescentes e jovens; com a População de Rua, com a recuperação de
jovens vítimas do crack e do álcool e outros mais.
O
apelo mais veemente que podemos fazer neste momento é que todos os envolvidos
nesta cruel realidade possam sentar-se e, criarem juntos estratégias para
superar a dor e a insegurança em que vivem as
populações atingidas pela violência exacerbada. Urge encontrarem-se Governo e
Sociedade Civil; Polícia Militar e Entidades Sociais e as organizações populares
para encontrar o melhor caminho para superar a barbárie que vivemos?
Oxalá
o sangue dos muitos inocentes, derramado injustamente nestes dias, seja o
clamor para que outras vidas não sejam ceifadas e famílias sejam poupadas de
chorar a morte de seus filhos, vítimas de um mundo tão pouco irmão!
Assim
seja!
Dom
Milton Kenan Júnior
Bispo Auxiliar de S. Paulo
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