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Santa Teresinha e o centro da fé cristã - Card. Odilo P. Scherer Arcebispo de São Paulo

 

Entramos em outubro, mês das missões, recordando Santa Teresinha, padroeira dos missionários. Há alguns anos, a pequena e jovem grande santa, tão querida do povo, foi proclamada “Doutora da Igreja” pelo papa João Paulo II. Doutores da Igreja são grandes intérpretes e expositores da fé cristã e são reconhecidos assim porque deram uma contribuição extraordinária à compreensão e à exposição do “Mistério” de nossa fé.

Qual foi a contribuição desta Santinha, que entrou no Carmelo com apenas 15 anos de idade, após uma licença especial arrebatada pessoalmente do coração do Papa, olho no olho do Pontífice estupefato... Qual é o ensinamento, para toda a Igreja, dessa jovem carmelita, falecida aos 24 anos de idade, sem ter escrito mais que cartas, poesias e sua história auto-biográfica?


O caminho para a santidade, vivido por S.Teresinha, passou a ser chamado “a pequena via”, ou “o caminho da infância espiritual”. Ela viveu um constante relacionamento filial e familiar com Deus, como criança que se sente profundamente querida e amada pelo pai. E, a partir dessa atitude, ela compreendia e vivia a mística correspondente, através da oração constante, da resposta de amor traduzida como obediência a Deus, da preocupação missionária para que também os outros compreendessem o amor misericordioso de Deus. Ela ardia de zelo missionário e mantinha contato, por cartas, com muitos missionários em várias partes do mundo.


Também dessa interpretação genuína da vida cristã, como relação filial e familiar com Deus, S.Teresinha compreendia e interpretava a fé, professada pela Igreja, bem como a vida moral daí decorrente enquanto prática vivida do amor a Deus, que leva a evitar tudo o que ofende a Deus e ao próximo, ou que não convém à dignidade dos filhos de Deus, e a praticar toda virtude que enobrece o agir cristão e também manifesta aos outros o amor de Deus.


Não seria isso sonho e fantasia de uma adolescente, ainda não provada pelos rigores da vida real? Quem lê a história auto-biográfica da Santa verá que não é assim; embora muito jovem, ela foi muito provada. O certo é que ela compreendeu bem e traduziu na própria vida o ensinamento central da fé cristã: Deus nos ama muito, como uma pai ama seus filhos. Desta afirmação está repleta a Sagrada Escritura. A própria vinda de Filho de Deus a este mundo, fazendo-se solidário conosco, e que é o fato central da revelação bíblica, testemunha isso mesmo: “Deus tanto amou este mundo, que lhe entregou seu próprio Filho” (cf Jo 3,16). E Jesus nos ensinou a chamar Deus de “nosso Pai” (cf Mt 6,9)


O Cristianismo, antes e mais que a afirmação de uma doutrina ou de uma via moral, é a afirmação de uma realidade e de um grande fato: Deus vem ao encontro do homem e o “salva”, ou seja, tira-o de sua indigência, da sua angústia, do seu limite natural e o eleva a uma condição sobrenatural. Tudo decorre daí. Deus nos chama para o encontro familiar com Ele, no qual o homem não é diminuído ou anulado, mas recebe uma plenitude que ele próprio nunca poderia alcançar por si mesmo. A salvação anunciada pela fé da Igreja, coerente com o Evangelho, não nos fala apenas da comunicação de “bens de Deus” a nós, mas da participação na “casa do Pai”, ou seja, da vida com Deus. É assim que nós cremos; é isso que a Igreja anuncia.


No Batismo, pela adesão de fé a Deus, por Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo, recebemos a participação na vida sobrenatural – vida divina - já neste mundo; e somos chamados a viver uma relação familiar com Deus já neste mundo. Esta é a realidade mais bonita e esperançosa da nossa fé, decorrente do Evangelho. Não é fantasia, mas é o cerne do Evangelho, anunciado e testemunhado pelos Apóstolos, os santos, os mártires, os verdadeiros pastores e doutores da fé, ao longo dos séculos. S.Teresinha o fez de maneira simples e extraordinária! E nós, como discípulos de Cristo, somos convidados a viver esta “vida nova” e a transmitir, como missionários, esse “belo anúncio” aos outros. Todos precisam saber disso! Não podemos guardar isso só para nós!


Publicado em O SÃO PAULO, de 04.10.2011

Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo